terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Entrega...

Durante toda a minha vida, me deparei com os mais variados tipos de mulheres, das carentes às mais equilibradas, das loucas ás que forjam uma sanidade, das que ainda não consegui uma classificação. Mulheres que tem seu jogo próprio por natureza, uma matemática simples do universo feminino e que na maioria dos casos leva ao fracasso absoluto da conta em sim.
Homem perfeito + ter que ser difícil + não demonstrar interesse nenhum por ele + uma semana de encantos e promessas que parecem roteiro de conto de fadas = uma entrega total e desmedida, que invariavelmente cansa qualquer ser de polaridade masculina. É minha amiga, a vida é dura, e os homens complexos de mais.
Pois bem, tendo claro esse jogo fracassado, decidi tomar outros rumos, dediquei-me ao meu completo e total prazer, com o objetivo claro de promover o desapego e principalmente em momento nenhum transparecer sentimentos. Não sei exatamente porque, mas a verdade é que sentimentalismo de mais, sempre me lembrou fraqueza, e essa é uma palavra que eu tenho verdadeiro pavor.
Foram anos, vários relacionamentos, épocas diferentes, histórias que hoje analiso com certa vergonha e glória ao mesmo tempo. Vergonha porque foram momentos de covardia, o fato de nunca me entregar totalmente a alguém, nada mais é do que medo de sofrer. E medo é covarde! Porém foram anos de glória, vi mares de lágrimas se formarem ao meu redor, por amigas, conhecidas e desconhecidas, sofrendo invariavelmente por amor, enquanto minha postura imponente e por vez fria me punham em um pedestal, longe de qualquer ameaça, sofrimento e ilusão, eu fui intocável, ou melhor, sempre tive o controle das mãos que me tocaram.
Infelizmente chegou o momento, o cruel momento de por em prática as minhas aspirações de uma vida intensa, eu precisei soltar as amarras, sair da concha e me entregar, para hoje poder dizer, que vivi de verdade. Ainda não consigo definir isso como tendo sido bom ou ruim, mas a realidade é que nunca mais fui à mesma depois de tal decisão, nunca mais consegui voltar a ser totalmente indiferente, embora não seja e nem acredite que um dia eu venha a ser do tipo, dependente de alguém. Mas aprendi a não esconder o que sinto, a não ter medo de sentir, o máximo que pode acontecer é uma decepção, mas imagino que ninguém morra por isso e se morrer, ainda acredito em destino.
O estranho é que percebo que o mundo não está aberto para pessoas claras e diretas, que decidem sim ligar quando tem vontade, mandar mensagens quando se está pensando, fazer declarações de amor olhando nos olhos ou escovando os dentes toda descabelada de manhã. Demonstrações de afeto são vistas com um certo receio, maior que o medo de se entregar a alguém, é o medo de ter alguém entregue a você, isso é responsabilidade de mais para alguns!
Faltam-me dedos pra contar quantas vezes ouvi pessoas falando que gostariam de ser amadas, gostariam de receber carinho, de ser lembradas, de não serem esquecidas em momento nenhum por alguém. Mas a realidade é que quando se recebe tudo isso, é muito difícil não julgar tamanho afeto como exagero, e exagero sufoca, cansa, enjoa. E ai, voltamos à estaca zero, onde vale mais a pena se esconder.
Quando os sentimentos não estão entregues em uma bandeja prontos para serem consumidos até o fim, eles parecem mais interessantes. Embora todo mundo diga que quer encontrar um verdadeiro amor, a verdade é que todo mundo quer conquistar um amor, mas sem de fato possuí-lo.
Não sei se posso me considerar diferente de todo o mundo, ou se generalizei de mais esse joguinho patético de esconde-esconde que as pessoas fazem, a questão é que sigo a risca o ensinamento de que se a regra não me favorece, vou ser a exceção. Não consigo encontrar vantagem nenhuma em guardar dentro de mim o que sinto, nem tenho medo de parecer apaixonada de mais ou de menos, quero me fazer entender. Acredito que nada é eterno, mas pretendo fazer até do mais singelo sentimento, eterno enquanto dure!
(Raíssa Mesquita)