domingo, 2 de novembro de 2008

O vazio!

Se você perguntar a uma criança o que seria melhor: sentir ou não sentir a dor? Ela provavelmente, dentro de toda a sua simplicidade infantil, irá lhe dizer que o melhor é não sentir.Então a criança cresce e descobre que existe um mundo infinito de dores, e que nem toda dor é demasiadamente ruim, e que muitas vezes a própria ausência de dor, é a causa de uma dor ainda maior: o vazio.Você se apaixona, vive intensamente aquele momento, se entrega de corpo e alma, faz juras de amor, planeja um apartamento pequeno, dois filhos, viagens de férias. Tudo é perfeito, até que seu príncipe encantado, sobe em seu cavalo branco e galopa rumo a outros reinados, atrás de uma nova princesa, e você? Ah, você sente que é o legítimo sapo de toda essa história.Neste momento surgem às dores do amor, a dor da perda, seu castelo acaba de desmoronar e você chora, sofre, pensa que não só seu castelo, mas o mundo todo acabou. Inicia-se a primeira fase.Passa algum tempo e você se dá conta, que, na verdade, a tal princesa está muito mais pra plebéia e o seu príncipe no fundo é um ogro, sem a bela fantasia. Aí vem a dor da raiva! “Como ele pôde fazer isso? Ela não tem nada de interessante? Eu o amava e ele faz isso? E tudo o que ele falava sobre nós?”... Pronto, seu coração está parecendo uma concentração de guerra e seus planos são mais diabólicos do que o roteiro de jogos mortais. Essa é a segunda fase.Depois de muitas tentativas de ataque, crises de raiva e planos cruéis, você percebe quanto tempo da sua vida gastou com ele e do quanto você foi burra ao acreditar nas coisas que ele falava... Ele sempre foi assim, só você não viu. E assim como fez com você, ele já até largou aquela princesa, e está por ai, pronto para fazer mais alguns reinados desabarem. “Qual é o meu problema? Porque eu não escuto conselhos? Tanta gente tentou me avisar! Porque eu escolho sempre a pessoa errada?”. É, agora, você se odeia por ter perdido tanto tempo com quem nunca valeu à pena, seu príncipe nunca passou de uma ilusão barata, que você fantasiou para alegrar seu ego. Agora você acorda todos os dias negando ter sentido tudo o que sentiu por ele. Essa é a terceira fase.Foram dias, meses, talvez anos remoendo essa história, e como se fosse um passe de mágica, você percebe que não sente mais nada realmente, que o sofrimento finalmente acabou, que a raiva se transformou em pena e que não adianta ficar se culpando pelo que passou, afinal já passou. Você pensa que agora sim está curada, tudo vai muito bem e você tem um antídoto contra sofrimento. Que grande besteira! A ausência da dor, nada mais é que um outro tipo de dor! Sofrer, chorar, ficar com raiva, planejar mortes e se arrepender é na verdade, uma maneira de se sentir vivo. O ser humano precisa da adrenalina e um coração ávido a pulsar; os sentimentos à flor da pele. Quando não se tem nada disso, nada difere você de um saco de batatas. Um ser sem sensações, sem estímulo, sem reação; que simplesmente leva a vida, mas não a vive!Portanto, acostume-se com a dor, é um mal necessário.
(Raíssa Mesquita)